Eu
queria gritar, queria dizer ao mundo sobre minha dor, sobre o quanto a torpe
sociedade me enojava e que todos estavam perdidos.
Mas não, mais uma vez estava eu, no meu pequeno
apartamento com vista para o céu, revivendo uma dor que jamais iria passar.
Algo nunca superado, crises que deveriam ser travadas, mas jamais saíram de meu
intelecto. Já estava cansada de meu comportamento rotinesco,
estava sufocando com minha angustia reprimida e não sabia como me livrar
daquele tumor que se instalara em meu ser. Um tumor que só eu sabia de sua
existência, pois nenhum médico ou equipamento seria capaz de detecta-lo.
A muito eu sabia que o elixir capaz de restaurar minha sanidade, só poderia ser fornecido por mim mesma, mas não queria desprender de minhas lembranças e voltar a encarar a vida que me parecia toda em preto e branco.
Perguntava-me por quanto tempo isso iria durar, por
quanto tempo deixaria as coisas como estavam, por quanto tempo me contentaria
com o céu visto pela janela e quanto tempo levaria para voltar a viver. Sim uma hora eu teria que retomar minha vida que
foi congelada, como um lago durante o inverno. Será que a primavera iria voltar e com ela, meu
sorriso com o calor e o aroma das flores?
Foi neste ponto, neste exato vagar de pensamento que me decidi, não iria mais
esperar!
A adrenalina tomou posse do meu corpo, coloquei um vestido a muito esquecido no armário, junto com um sapado dos tempos de verão e fui ver o que a paisagem de meu nobre apartamento protegia. Desci as escadas, tentando me habituar ao salto que já não me era mais tão natural e um pouco zonza devido à repentina decisão de me socializar com a cidade.
A adrenalina tomou posse do meu corpo, coloquei um vestido a muito esquecido no armário, junto com um sapado dos tempos de verão e fui ver o que a paisagem de meu nobre apartamento protegia. Desci as escadas, tentando me habituar ao salto que já não me era mais tão natural e um pouco zonza devido à repentina decisão de me socializar com a cidade.
Cautelosamente peguei um táxi e me dirigi ao centro
de São Paulo, provavelmente o local mais indicado para rever pessoas em uma noite
de sexta feira. Durante o percurso que não era muito longo, me
peguei atenta às ruas da cidade, a sua composição, cores, odores, estilos e da
janela do táxi meus olhos encontraram a lua, a mesma lua que um dia me fascinara...
A lua que com seu magnetismo fazia de mim uma mulher apaixonada pela vida. Olha-la
era um bálsamo para as adversidades do dia-a-dia e de repente um eclipse passou
e com ele levou todo o brilho e encanto que a lua exercia sobre mim.
Lá estava ela, linda e cheia de encanto. O eclipse
que se instalara em minha vida estava passando, eu já podia sentir seu brilho
sob minha face e este era um belo sinal.
Paguei o táxi e continuei o percurso a pé, extasiada com a expectativa da saída noturna, assim como uma criança em um parque de diversões, sem muitos pensamentos, apenas pela empolgação do momento fui caminhando em direção as luzes e aos ruídos típicos da noite, avistei um bar e sem pestanejar entrei.
Um pouco tímida, olhei meu vestido, passei as mãos pelos cabelos e segui em frente, circulei pelo estabelecimento, olhando as pessoas, suas expressões, seus movimentos e olhares. Já meio familiarizada com o local sentei em uma mesa e pedi uma taça de vinho e me deixei vagar ao som do Jimi Hendrix. O bom e velho Rock’roll sempre me agradara, e lá estava eu, permitindo ser eu mesma.
Paguei o táxi e continuei o percurso a pé, extasiada com a expectativa da saída noturna, assim como uma criança em um parque de diversões, sem muitos pensamentos, apenas pela empolgação do momento fui caminhando em direção as luzes e aos ruídos típicos da noite, avistei um bar e sem pestanejar entrei.
Um pouco tímida, olhei meu vestido, passei as mãos pelos cabelos e segui em frente, circulei pelo estabelecimento, olhando as pessoas, suas expressões, seus movimentos e olhares. Já meio familiarizada com o local sentei em uma mesa e pedi uma taça de vinho e me deixei vagar ao som do Jimi Hendrix. O bom e velho Rock’roll sempre me agradara, e lá estava eu, permitindo ser eu mesma.
Como era suave a sensação de viver o presente,
apreciar o sabor adocicado do bebida, sentir minhas faces rosadas devido ao
calor, o calor do álcool, o calor das pessoas, o calor do Rock… Uma brisa
primaveril passou por mim e com ela vestígios de luz e uma previsão de que os
dias de inverno estavam chegando ao fim e que em breve o gelo se tornaria água…
Límpida, translúcida e revitalizante.
Ainda solitária em minha mesa, me senti reviver. Uma nova mulher estava se constituindo, assim como a fênix ressurgindo das cinzas. Estava com sede, sede de vida e de vinho, ainda um tanto sensibilizada com as repentinas mudanças pedi mais uma taça e com um leve sorriso, brindei ao renascimento.
Um sorriso singelo e o brilho de minha face devem ter chamado atenção, pois notei um par de olhos me observando. Meu Deus! Estaria eu preparada para retribuir aquele olhar, estaria preparada para conversar com outro ser sobre amenidades e simplesmente deixar que as feridas de minha alma se cicatrizassem?
Ignorei o tumor que fora o centro de minhas
atenções na última década e sem muitos questionamentos retribui ao olhar
inquisidor que me fitava. De forma discreta e sem prática lancei um leve
sorriso de lábios fechados. O dono dos olhos de cor de carvalho não se fez de
rogado, invadiu minha defesa com um sorriso escancarado e cheio de charme. Sem
querelas veio caminhando em minha direção, devagar, sem dúvidas, sem
restrições…
Quem seria aquele estranho, o que o motivou a se dirigir justamente a mim, e em que uma simples
conversa poderia acarretar? Estaria eu, flertando com ele?
Minhas respostas estavam prestes a se esclarecer, aqueles olhos de carvalho me encaravam com uma mão estendida para a cadeira à minha frente e a outra mão segurando um copo que aparentava ser vodca e um tom de interrogação, exclamando um “Posso?”. Assenti sem sequer pronunciar uma única palavra e ele se sentou.
No início não disse nada, apenas me olhava e sorria com o canto dos lábios, meio zonza, com certo esforço retribuía o olhar, talvez não na mesma intensidade, mas não conseguia ao menos piscar, estava vidrada em seus olhos. Ele me encarava e tomava goles longos do líquido transparente com cheiro forte, minha taça estava vazia e minha sede de vinho já estava saciada.
Minhas respostas estavam prestes a se esclarecer, aqueles olhos de carvalho me encaravam com uma mão estendida para a cadeira à minha frente e a outra mão segurando um copo que aparentava ser vodca e um tom de interrogação, exclamando um “Posso?”. Assenti sem sequer pronunciar uma única palavra e ele se sentou.
No início não disse nada, apenas me olhava e sorria com o canto dos lábios, meio zonza, com certo esforço retribuía o olhar, talvez não na mesma intensidade, mas não conseguia ao menos piscar, estava vidrada em seus olhos. Ele me encarava e tomava goles longos do líquido transparente com cheiro forte, minha taça estava vazia e minha sede de vinho já estava saciada.
Naquele momento apenas a curiosidade me corroía, eu
mantinha o olhar, o controle e a serenidade…
Em meio a devaneios não notei quando os
fitantes olhos de carvalho se levantaram e me levou para o meio da multidão. Sem dizer uma única palavra enlaçou minha cintura para uma dança.
...
Sábado de manhã, mente enevoada, pés formigando como
se tivesse dançado por horas a fio. Mas na noite passada estava preocupada
demais com minha dor, com meu câncer para simplesmente dançar
despreocupadamente, certo? No mínimo tive um sonho, isso era um bom sinal,
pois não tinha sonhos bons a tempos, seria um sinal?
Talvez… Entretanto o sonho havia me impressionado,
causado sensações um tanto quanto reais. Estava com o aroma de vinho em meus
lábios, um formigamento insistente nos pés, uma textura diferente em meus
cabelos.
Com os olhos semifechados, ainda tentando absorver o que acreditava ser um sonho, vejo olhos de carvalho, junto com o homem que o possui bem a minha frente, me servindo o café da manhã.
Estava tendo uma alucinação. Desde quando os sonhos têm autorização para se teletransportar de minha mente para minha cama? Ou seria que… Não!!!
Eu realmente havia saído... O bar, o vinho, Hendrix, salto alto? Agora estava nítido em minha mente, o táxi... A lua e o fim de meu eclipse pessoal, o bar e a troca de olhares sem palavras pronunciadas.
Com os olhos semifechados, ainda tentando absorver o que acreditava ser um sonho, vejo olhos de carvalho, junto com o homem que o possui bem a minha frente, me servindo o café da manhã.
Estava tendo uma alucinação. Desde quando os sonhos têm autorização para se teletransportar de minha mente para minha cama? Ou seria que… Não!!!
Eu realmente havia saído... O bar, o vinho, Hendrix, salto alto? Agora estava nítido em minha mente, o táxi... A lua e o fim de meu eclipse pessoal, o bar e a troca de olhares sem palavras pronunciadas.
Só não entendia o que aquele homem estava fazendo ali, ao meu lado e pelo pouco que me permiti observar de olhos semifechados... Seminu, esperando eu despertar a qualquer momento para uma realidade que não estava nem um pouco preparada para encarar.
Era tarde de mais, não havia muitas possibilidades, as evidencias estavam bem ali. Uma hora teria de abrir os olhos e fitar os dele, e com ele ao meu lado olharia no que havia se tornado o céu da minha janela, que a essa altura estaria refletindo não mais céu, mas sim pessoas e novas possibilidades.
Revisado em Dez/2015
Um comentário:
Que linda essa minha prima!
Eu não sabia que vc escrevia tão bem!
=]
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