Para ser lido ao som de Tulipa Ruiz
O cheiro de café a desperta, uma pilha de jornais lidos num canto da sala lhe lembra, que algumas coisas devem ser organizadas e aquela exposição visitada.
A música da banda desconhecida toca sem pedir licença, bem ali, na superfície do subconciênte.
O café está do jeito que gosta... doce, o suficiente para que não perca o gosto forte e instigante.
O banho é longo e relaxante. O telefone toca.
O broto ligando pra avisar que a parente de décimo quinto grau morreu e que será forçado a trocar o aconchego do cinema por sei lá quantas horas de ônibus para uma cidade com nome de índio.
Aham, finge que acredita e que não sabe, que na verdade neste exato momento ele está se direcionando para um bar qualquer com intenções de sexo fácil. E no seu tom mais convincente se faz de compreensiva e lhe oferece condolências.
Meia hora de rasgações de seda e promessas de outro encontro, encerra a ligação.
Sem querelas, vai até o armário sem portas a procura da roupa perfeita. Algo casual, confortável e charmoso. Afinal, é o minimo que se espera de uma mulher que vai sozinha ao cinema. Autoconfiança e elegância.
***
Antes de sair do prédio, confere a maquilagem no espelho da portaria e vai caminhando até o cinema.
Ela gosta do movimento da cidade e de observar os transeuntes... temperatura agradável e promessas de uma tarde ensolarada.
Vai até a bilheteria, confere o horário do filme pré escolhido (não o que assistiria com o broto, mas sim aquele romance excêntrico que certamente tem como destino o "Telecine Cult"). Compra o bilhete para daqui duas horas e sai sem pressa, caminhando pela rua simpática... olhando um anel aqui, um chapéu acolá.
Entra no restaurante de esquina, escolhe a mesa com vista para o jardim e pede aquela salada de rúcula com tomates secos, uma fatia do quiche de queijo e o já conhecido suco de melão com pedrinhas de gelo feito de saquê.
***
Ainda tem uma hora antes da sessão começar.
Caminha descontraidamente, cantarolando sem perceber a canção da banda desconhecida, que está ali, lhe saudando desde que acordou...
Entra na livraria acolhedora, instalada em um sobrado antigo que lhe cai muito bem. Sempre achou, que esse tipo de lugar são os melhor, em qualquer lugar do mundo... Arquitetura antiga, vitrais charmosos e uma "chaise longue" a sua espera.
Sem muita procura, bate os olhos em um livro com ar cansado e sedento de companhia. Teu faro não se engana, troca meia dúzia de gentilezas com a proprietária da livraria, compra o livro satisfeita e sai... feliz com a mais nova aquisição, que ta mais para "amizade prestes a se estabelecer".
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Falta 30 minutos para o filme começar. Compra uma garrafa d'água, 2 pacotinhos de confetes de chocolate, entra no cinema com som de alta-resolução e poltronas confortáveis. Instala-se na terceira fileira, na poltrona do meio... bem no centro da tela (acompanhada ou não, bons lugares sempre).
O filme começa, ela esquece do broto, do livro, do mundo que existe fora daquela sala.
A história prende totalmente tua atenção, lhe faz rir... lhe causa apreensões... a faz chorar e a rir (de novo) logo em seguida.
Como não poderia deixar de ser, quando as luzes se acendem e a tela volta a ser apenas uma tela... ela não é mais a mesma.
Sai dali com novas impressões, a sensibilidade aguçada e outra visão de beleza.
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O roteiro não muda muito, vai caminhando até aquele outro café fora de mão... mas que o charme e a promessa de bom papo sempre te faz voltar.
Senta de frente para porta, de modo que possa apreciar o pôr do sol e estabelecer os novos laços de amizade, com o livro sedento de companhia.
A garçonete, traz o café de costume... e o papo flui até o cair da noite, com teu mais novo amigo de páginas amareladas e ótimo gosto.
Uma pena que ele não goste de café!